Uma pessoa sabe que este é um dia mau a partir do momento em que ouvir uma música de The Killers a deixa deprimida, coisa nunca antes vista. Mas o problema a sério não é esse, por estranho que possa parecer. O problema a sério começa quando a dita pessoa se apercebe que mudando o tom para Mogwai e para a 2 Rights Make 1 Wrong, que tem aquele condão de a animar quando é preciso, ainda assim continua deprimida.
Ao fim de mais meia dúzia de mudanças, chegamos ao centro da questão. O problema reside não na música que ouvimos mas sim no que está na nossa cabeça e está a interferir com tudo o resto. Os chamados pensamentos demoníacos. E eu devo ser a rainha dos pensamentos demoníacos, que a minha cabeça anda feita máquina de lavar roupa há já algumas semanas: a girar, a girar, a girar. Tanta volta faz com que aqueles fantasmazinhos que estavam muito bem guardados lá no fundo, por baixo de tudo o resto, venham parar cá ao de cima outra vez. Trufas.
Lembram-se deste post? Na altura em que o escrevi, passei dois ou três dias fechada em casa, sem falar com ninguém a não ser o estritamente necessário (a minha mãe e a minha melhor amiga), a ver a season 3 do Nip/Tuck de enfiada para tentar silenciar toda a confusão que estava aos gritos na minha cabeça. Do dia para a noite, no caso de uma manhã para uma tarde, sem eu própria saber bem como, peguei nas minhas perninhas, arranjei-me e fui sair. Não fui longe, daqui de minha casa ali ao Campo Grande é um pulinho, mas foi como se tivesse dado três voltas ao mundo. Recuperei o sorriso e o ânimo assim do nada para, logo de seguida, cometer toda uma série de erros, mas isso agora não interessa nada.
Ver toda a gente que me era mais próxima a andar para a frente quando eu parei no tempo foi algo que sempre me fez muita confusão. No último ano do Liceu habituei-me finalmente a uma série de coisas que agora puff, foram-se. Estou a trabalhar, estou ocupada, tudo bem, mas não estou a estudar. Não tenho testes, apresentações para preparar, nada disso. Talvez por isso, às vezes, tenha reacções exageradas quando não consigo reunir toda a gente por culpa do raio da faculdade e não da vontade das próprias pessoas. Exagero, resmungo como é muito meu costume e ando há uma semana a descarregar as minhas frustações em quem nada tem a ver com o assunto e que atura tudo sem dar um aí que seja. Tudo por causa de uma ideia muito pouco luminosa da minha parte de marcar uma ida à praia.
Resmungo sim mas a verdade é que estamos oito nesta fotografia e desde este dia (em Setembro) que não voltámos a estar os oito. Não há noites no Bairro, não há jantares não há nem uma merda de um café. E isso irrita-me. Irrita-me ser a única a puxar a corda, outra vez. E sinto a falta. Porque caí numa rotina de acordar-ir trabalhar-vir para casa-dormir-acordar outra vez que odeio. É todos os dias o mesmo plano, fora as raras vezes que saio depois do trabalho para ir dar uma volta com uma amiga minha. Vejo as mesmas pessoas todos os dias, mas são pessoas que não me dizem nada. Aquelas que realmente me dizem algo e me fazem falta, vejo ao fim-de-semana ou falo de vez em quando por telefone, SMS ou MSN. E estes oito já não os vejo ou falo há meses.
Graças a Deus que o raio da faculdade não é impeditiva para toda a gente e há uma alminha que eu sei que basta dizer "Vamos sair?" que ele diz logo "Onde e quando?". E não há de faltar muito para irmos mesmo, que eu já estou em boa idade de mudar, de deixar de ser anti-social e de ter medo de estar com pessoas que não conheço.
Se eu tenho 18 e tenho a sensação que, em certas coisas, a vida me está a passar ao lado, a continuar assim aos 30 mando-me da ponte.
(Sentido que este post faz: nenhum. Percentagem de alívio que eu sinto depois de debitar isto tudo: cerca de 15%. Percentagem de seca que apanha quem o ler: acima dos 300%. Desculpem.)
Não apanhei seca.
ReplyDeleteQuase me fizeste chorar, e isso porque compreendo tão bem o teu problema!
Eu já fiz a faculdade, no Porto, e, como tive que deixar a minha cidade, onde fiz o liceu, acabei por perder contacto com muitos dos meus amigos da altura. Em compensação, fiz grandes amigas na faculdade. Daquelas que parece que conhecemos desde sempre. Uma delas é do Porto, duas de muito perto, uma de Trás-os-Montes e eu também de Trás-os-Montes, mas mais a Norte. Por isso, quando chegámos a Maio do último ano da Faculdade, fartámo-nos de recordar e chorar e prometer que nunca iríamos deixar de nos ver...
Cada uma lá voltou para casa e encontramo-nos todas ocasionalmente. A última vez que isso aconteceu foi na altura do Natal, mas foi tão fugaz - nem uma tarde chegou a ser - que soube a muito pouco! Tentámos combinar um fim-de-semana em Fevereiro e estava tudo a correr bem, quando alguns imprevistos impediram a ida de algumas pessoas... A pessoa que estava mais envolvida na organização do fim-de-semana ficou muito aborrecida por não ter resultado, mas há coisas que não podemos controlar...
Agora também entrei na rotina chata do mesmo trabalho com as mesmas pessoas, a quem sou quase indiferente, todos os dias. Como tu, sinto muito a falta de estar com o meu grupo de muitas pessoas, em vez de ver uma ou outra de vez em quando. E o pior é que, na minha terrinha, durante a semana não tenho um único amigo (às vezes, uma grande amiga ou o meu namorado vêm passar o fim-de-semana; de resto, amanha-te...). Como sabes, fui ontem ao Porto e, por umas ou outras razões, regressei sem poder rever uma única dessas amigas...
É mesmo triste... Mas não desistirei e, mesmo sabendo que vão ser muitas mais as vezes em que não conseguimos combinar nada, continuarei sempre a tentar inventar programas, pois a verdade é que preciso delas para me sentir feliz... Ou não são assim os amigos? :)
Um grande beijinho
tens MEEEESMO de arranjar maneira desses pensamentos do demo desaparecerem. ou darem tréguas...
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