Friday, November 21

Memória

"She said - Don't, don't let it go to your head (...)"
Taking Back Sunday - "You're So Last Summer" - Tell All Your Friends - 2002

No ano passado, apesar de estar no agrupamento de Ciências e Tecnologias e só os de Ciências Sociais e Humanas terem a disciplina de Psicologia, consegui ir assistir a algumas aulas, já que o horário era compatível. Um dos conceitos que me lembro melhor de explorar foi a Memória, algo que sempre me despertou, e ainda desperta, imensa curiosidade. Ora, a Memória pode ser dividida em três vertentes: sensorial, a curto prazo e a longo prazo. A Memória sensorial dura entre 200 e 500 milisegundos e, após este tempo, o objecto é completamente esquecido. A Memória a curto prazo dura algumas horas e deixa certos traços ao fim desse tempo. Por fim, a Memória a longo prazo pode durar meses, anos e/ou até uma vida inteira.
Poderão não ser estas as definições exactas uma vez que já não me lembro precisamente do que se falou nessa aula mas deverá ser algo muito semelhante a isto.
Eu tenho (modéstia à parte) uma memória espectacular. E odeio isso. É uma das causas para, por vezes, ser tão antipática e arrogante com determinadas pessoas. "Ah e tal, isso já foi há tanto tempo, ainda te lembras disso?". Lembro pois. Quem me dera a mim não lembrar...
Aqui há uns anos, andava eu no 9º ano, tinha um grupo de três amigas com quem passava a maior parte do tempo fora das aulas. Almoçávamos quase sempre juntas, passávamos horas à conversa. Lembro-me, tão bem como se fosse hoje, que foi nessa altura também que decidimos comprar um maço de Marlboro, só para experimentar (e foi mesmo só experimentar, pelo menos para mim e para mais uma delas). Coisas de adolescentes parvas de 14 anos. Ora, o 9º terminou e terminou também um ciclo e uma delas resolveu mudar de escola. Resumindo a história, é claro que nos afastámos e, na altura, preferimos culpá-la por esse afastamento e não tivémos noção que também tinhamos contribuído um pouco para isso, embora ela não mostrasse interesse por manter a amizade. A mais revoltada com o afastamento (pelo menos, a que demonstrou mais a revolta) fui eu e ao fim de quase um ano lectivo de discussões e mais discussões, tivemos o 'embate final'. Encontrámo-nos por acaso no Rainha D. Leonor, sem trocar uma palavra, e no dia seguinte, ela veio-me provocar. Queria arranjar confusão, queria que eu lhe respondesse aos insultos para que desse pancadaria.
Não sei como, consegui manter o nível (sou muito impulsiva nestas alturas e falo antes de pensar mas dessa vez consegui conter-me). Graças à minha memória espectacular, lembro-me perfeitamente de tudo o que ela me disse, cada insulto, cada provocação. Lembro-me que tremia por todos os cantos e que chorei, chorei, chorei que me fartei (e que a Luna esteve lá para mim, como sempre).
Passaram-se três, quatro anos e eu continuo a lembrar-me disso como se fosse hoje. No Natal passado, encontrei-a na rua, por acaso. Veio-me falar como se nada se passasse. "Ah, e tal tudo bem? Nunca mais disseste nada, temos de pôr a conversa em dia."
Consegui apagar da minha memória os nossos momentos a quatro, daquele 9ºano deprimente. Mas não consegui apagar tudo aquilo que ela me disse naquele dia, por isso pus o meu melhor sorriso das segundas-feiras e encolhi os ombros. Prefiro continuar a ser a anti-social (que assumidamente sou) do que dar-me com pessoas destas.
Assim como preferia que, em certas ocasiões, a minha memória fosse um bocadinho menos espectacular e que eu conseguisse esquecer algumas coisas... Era muito mais feliz, de certeza.

2 comments:

  1. Eheheh... Com uma memória assim resta-te trabalhar a capacidade de perdoar senão vai continuar a não ser fácil...

    :)

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  2. Sou tal e qual. Até meto nojo. Quando tinha dezanove anos, o irmão de uma amiga minha, com uns onze ou doze, pirralho infernal, virou-se para mim e disse: "Ó Xana, não tens vergonha de com essa idade ainda estares em casa da tua mãe???". Eu ri-me, mandei-o passear e... quando ele fez dezanove anos, depois de soprar as velas, fiz-lhe exactamente a mesma pergunta. Havia muitas pessoas na sala comuns aos dois momentos e nunca vou esquecer a expressão de toda a gente, o silêncio e o comentário dele "Esta gaja é mesmo f*dida! Ainda se lembra disto!" E eu, porquê, tu não? Toda a gente rebentou a rir. Sou assim até hoje. Os meus amigos até me dizem, às vezes, "Oh, Xana, diz lá quais foram as palavras exactas que fulano de tal disse em tal ocasião!" E eu quase sempre sei repeti-las ipsis verbis. É doentio. Em vez de uma memória brilhante, preferia ter uma memória selectiva brilhante. Isso é que era... doía menos! BJS

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