Aí, nesse dia 16 de Setembro, vi literalmente a minha vida dos últimos meses a passar-me em frente dos olhos. Ali, sentadinha naquele degrau de pedra, com aquela gaja do Porto sentada à minha direita a dizer mal de tudo e todos, do curso de Bioquímica que já tinha frequentado, dos veteranos da outra faculdade e de não sei mais ou quê, quando já mal conseguia falar porque a amigdalite que me viria a atacar com toda a força no dia seguinte já estava a fazer das suas e a pôr-me com febre e com as amígdalas do tamanho de bolas de futebol, apercebi-me da grande estupidez que estava a fazer. A minha cabeça começou a girar, qual montanha-russa em andamento, a uma velocidade supersónica. Eram imagens dos almoços de sábado com a Ana, as noites em casa da Luna, a Baixa inteira já palmilhada por mim e pela Diana mais de mil vezes, os jantares com o pessoal do Secundário, que tinha terminado há tão pouco tempo ainda, os concertos de Rhizome com o meu irmão, os jogos do Sporting assistidos no estádio com o meu pai desde os cinco anos. Eram as minhas raízes todas a serem arrancadas com força e deitadas para o lixo, depois de toda a dificuldade que eu tinha tido a criá-las. Era a perspectiva de um "Até daqui a três anos" que eu tinha ansiado durante muito tempo, durante todo aquele tempo em que tinha achado que não havia aqui nada de novo, nada que me prendesse e que era altura de me libertar, abrir as minhas pequenas asinhas e voar para bem longe, para um sítio onde pudesse pôr as ideias em ordem e começar a aceitar-me a mim própria da maneira como sou, mas que, qual partida do destino, já não ansiava mais porque tinha finalmente umas amarras que me prendiam cá em Lisboa, bem firmes. A (re)descoberta da lindíssima cidade onde vivia e que, por negligência e falta de interesse, não conhecia, as amizades que significam tudo, que são essênciais para que esteja bem e que tinham sido estreitadas e que, descobri eu, lá na santa terrinha, naquele degrau de pedra gelado, me fazem mais falta do que eu imaginava, a descoberta de um sentimento novo, que não era amor nem apenas atracção e que tinha levado a algo confuso e estranho que também não era um namoro nem uma simples amizade colorida mas que tinha chegado (finalmente) e sabia tão, tão bem, as saudades que já sentia quando estava longe só há algumas horas... Tudo isso tomou conta de mim e consciencializei-me que, quando regressasse de vez ia ter 21 anos, ia voltar para arranjar um emprego (ou quem sabe, ia ficar por lá definitivamente), uma casa para mim. Os amigos que cá tinham ficado e que tinha demorado tanto tempo a arranjar iam já ter uma vida nova, a maior parte a meio do curso de Medicina, os outros a fazer sabe Deus o quê. Três anos é muito tempo e, apesar de tudo, a internet, o telefone e algumas visitas cada vez mais esporádicas não chegam. Tentei convencer-me que sim nos primeiros tempos, naquela semana de indecisão, "vou ou não vou?" foi a frase que mais me perseguiu, mas não chegam. Estava a arriscar muitas coisas, demasiado importantes para mim, e não valia a pena.
Voltei. Fui criticada, desiludi muita gente. Ainda hoje, passados dois meses e meio, às vezes pergunto-me se fiz bem. Se, se lá tivesse ficado, já teria feito alguns amigos (Ahahah, devia ser o milagre do século, que eu para falar espontaneamente com alguém é preciso quase que chovam martelos). Se estaria a gostar do curso. Se, se, se...
As amizades de cá mantêm-se. Não nos temos visto nem mais nem menos do que nos veríamos se eu tivesse lá ficado. O sentimento novo teve de ser posto para trás das costas e deu lugar a outro, mas que sabe igualmente bem. Não estou bem, nem feliz nem nada que se pareça mas sei que quem me vai ajudar a melhorar está pertinho, pertinho e não a mais de 400 km de distância. E isso é muito reconfortante.
E também sei que, no próximo ano, a faculdade vai continuar no mesmo sítio. Sossegadinha, à minha espera. Que quem acaba o curso com 22 em vez de 21 não vale menos por causa disso.
(Pronto. Nunca tinha falado assim abertamente do que me passou pela cabecinha naquela altura. Com ninguém. Finalmente disse tudo aquilo que tinha cá dentro há meses e tirei um peso de cima dos ombros e um aperto de dentro do peito. Isto tudo não faz muito sentido, mas eu própria não faço muito sentido portanto...)
Olá querida.
ReplyDeleteGostava só de dizer que nunca te critiquei nem fiquei desiludida com a tua decisão de regressares de Vila Real. Como tua amiga, para mim o mais importante era e é que sejas e feliz e que estejas onde te sentires melhor.
Tenho pena que ainda não estejas tão feliz como mereces. Mas fica sabendo que eu estarei ao pé de ti sempre que precisares. E não sou a única. Espero que saibas isso ;).
Beijinhos
Adoro-te miuda
Entraste para a UTAD? Para a UTAD? Nem te digo nem te conto o que esse diabo dessa universidade já pesou na minha vida. Minha Nossa Senhora. Levou-me o meu primeiro grande amor, formou um outro em Ed. Física que foi uma nódoa na minha auto-estima... enfim. Mas acho que o ambiente é excelente e que irias gostar de ter arriscado lá ficar. Não voltes a adiar o futuro. Beijocas grandes.
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