Saturday, April 16

A desilusão é uma coisa lixada. É inevitável que criemos expectativas relativamente a algo benéfico que se nos afigura possível de acontecer. Quem diz que nunca o fez, para mim é alguém que mente com todos os dentes que tem na boca. Não é humano prevermos algo positivo que se vai atravessar no nosso caminho e não ficarmos nem um pouco expectantes em relação a isso. E um pouco desiludidos quando tal não se vem a realizar.
Uma amiga minha levou com uma desilusão "daquelas"; das que nos tiram o chão e espetam o peso do mundo em cima dos nossos ombros. A expectativa dela foi prolongada, demasiado prolongada durante demasiado tempo. E agora, a J. está triste, pensa e repensa milhares de vezes o mesmo, revê toda a situação para tentar encontrar aquele pequenino detalhe que julga ser explicativo deste desenrolar da situação e que lhe escapou ao início.
Eu sei, porque já passei por isso e uma das vezes foi há bem pouco tempo, que dói, que custa, que queremos analisar tudo, reviver tudo, para ver onde se errou. Que a perspectiva de ver os planos todos que construímos no entretanto é assustadora porque dá ideia que não vai voltar a haver hipótese de uma nova construção de planos. Mas por já o saber, também já aprendi que o tempo tudo cura. A dor é maior quanto maior é a desilusão e o sentimento que temos. Mas também a nossa força enquanto seres humanos é encontrada nestes momentos. E conseguimos levantar-nos de novo, pegar em todos os pedacinhos em que nos partiram e colar quase tudo de novo. E digo quase tudo porque não é igual. Não ficamos os mesmos e parece que fica a faltar uma das pecinhas. Há sempre um vazio, um espaço onde fica a faltar uma peça e pelo qual entra de novo uma dor pequenina de cada vez que vemos, falamos ou simplesmente pensamos nessa pessoa. Só temos de aprender a viver com ela e não deixar que nos afecte mais do que deve.
Eu, confesso, ainda não aprendi a viver com isso. E assim, não sei como confortar a J. e isso faz-me sentir extremamente inútil porque se há alturas em que sou tão boa com as palavras, nestes momentos parece que perco esse jeito e fico sem saber o que dizer. O que me irrita profundamente.

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